20 maio 2010

palavras para a vida










O namoro é primeiramente a sintonização de duas almas que, embora diferentes, se “encontram”, sintonizam como o aparelho de rádio e a emissora. É a repetição maravilhosa daquele primeiro encontro do primeiro homem com a primeira mulher, uma sintonização completa; Adão nunca tinha visto aquela mulher, mas reconheceu logo que ela era para ele e Eva deve ter sentido o mesmo. Sintonizam a onda do amor. Por vezes, o que dá início ao namoro pode ser o interesse material, as conveniências sociais, meramente sociais… Mas, se não passa disso…, então já não é namoro, pois é da essência do verdadeiro namoro um encontro de amizade: dois que começam a sintonizar, que querem ser uma para o ouro, preferindo-se a todos os outros.

Esta sintonia pressupõe: certo atractivo intelectual, embora isto pareça frio e de uma fase posterior; capacidade de se entender; certa atracção emotiva e afectiva; finalmente, atractivo físico no qual vai incluído, embora por vezes não explícito, o atractivo sexual, que não deve ser confundido com o genital.

Nesta descoberta e sintonização do “tu” reside o “enamoramento”, que será um factor importante para toda a vida. O namoro começa para nunca mais acabar, pois foi um encontro novo e vivido com certo sobressalto, surpresa e angústia, mas feliz. O amado ou a amada ocupam o pensamento e o coração de modo preponderante. O predomínio não é do erotismo, mas da necessidade de conhecer, de descobrir o mistério da pessoa amada e de amar. O matrimónio será a realização de todas estas aspirações. Nela a união heterossexual atinge a sua maior profundidade e intimidade.

(…)

O namoro é, portanto, a convivência entre duas pessoas de diferente sexo e livres relativamente ao matrimónio, em idade apta para o fim próprio do namoro. É uma convivência assídua, séria, de preferência com exclusão doutras pessoas.

Esse namoro é uma impressão no coração. O tu que a produz adquire um significado especial:

“Vai ver as rosas. E verás que a tua é a única no mundo.” (Saint-Exupéry)

Há diversos estádios até chegar ao enamoramento e ao namoro: primeiro, uma atracção intensa, mas um tanto imprecisa, para alguém do outro sexo; depois, uma atracção para a pessoa ideal; o seguinte passo é pensar numa pessoa concreta, com a qual se sonha ter uma convivência heterossexual. Tudo isto envolvido num clima de luta e de atenção: luta para conquistar a atenção da pessoa amada e atenção para dar à pessoa amada tudo o quanto desejar. A pessoa amada enche o coração e substitui tudo o resto. Nasce então o desejo e a necessidade de comunhão entre ambos.

É o namoro.

in "1+1+x = namoro", Gregório Almendres - Editorial Perpétuo Socorro, 1979

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